quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Segunda Oportunidade


A Segunda Oportunidade

Quando se é mãe tudo se altera. Quantas vezes mo disseram e quantas vezes não o entendi. Só entende quando se é mãe. Na verdade nunca entendi totalmente o tom mais amargo ou de sarcasmo que algumas dessas pessoas utilizaram então. Como se estivessem arrependidas. Ou como se soubessem algo que mais ninguém sabe...como se tivessem perdido tempo de vida...Como se dissessem..."agora é que vais ver..." Ser mãe é sem dúvida o papel mais importante que alguma vez irei desempenhar na minha Vida. Do meu desempenho vai resultar ou não um Ser Humano Pleno, com possibilidades ou não de realizar por completo ou não as suas potencialidades. Cada gesto é copiado, cada palavra analisada, cada emoção apreendida. Aos seus olhos de criança eu sou aquela que a protege, que a alimenta, que a mima ou que dá a palmada. Sou aquela que tenta dosear a doçura com a firmeza. Que tenta educar a brincar...no infimo grão de tempo que com ela partilho. Ás vezes pergunto-me, filha, o que te passará pela cabeça? Será que entendes o quanto me preocupo contigo? O quão importante és para mim? Será que um dia vais entender o quanto me dói não te ter comigo, os sacrifícios que faço para um dia te poder dar tudo o que necessitas e ter uma vida que me permita os horários que se cuadunam com os de uma criança? No dia em que um só trabalho me dê o suficiente para manter uma casa? No dia em que as dividas herdadas estejam pagas? Ou será que vais cobrar a minha ausência, a ausência física do gesto partilhado, do passo que não vi, da palavra que não ouvi...simplesmente porque não estava ao teu lado. Não estava aí. Nunca deixo de estar, sabes. Há uma parte de mim que está sempre contigo. Tu és e serás sempre o Ser mais importante na minha vida, e pela tua felicidade eu estarei sempre pronta a abdicar da minha se tal for necessário. Sem pestanejar. Sem arrependimentos...como poderia? Quase dei a vida por ti quando nasceste, e foste tu que me pediste para ficar. Minha filha, por ti daria a minha vida e muito mais ainda. Escolheste-me a mim como mãe e és a filha que sempre sonhei ter. Será que o sabes? Será que algum dia o saberás? Engraçado... A Vida ensina-nos o que tem a ensinar, seja aos 16, seja aos 35, seja aos 90...de cada vez que recusamos a lição ela regressa, a mesma situação que deveríamos ter ultrapassado, mas em condições diferentes...quantas vezes mais difíceis então. A segunda oportunidade. Nunca pensamos nela assim, não é? Uma dificuldade resume-se muitas vezes a uma segunda oportunidade de aprender algo, uma lição á qual fugimos da primeira vez. Da primeira vez...tomei a decisão que podia. Sozinha. Agarrei-me á ideia que não seria um filho meu, mas sim dos meus Pais já que por eles seria criado. O que pensa uma miúda de 16 anos numa situação assim? Nem criança nem mulher...já nem sei. Recordo-me da confusão. Recordo-me da Dor. Recordo-me de ter tido uma Mãe que me deu a responsabilidade da decisão. Que me deu apoio, fosse qual fosse a decisão...e eu decidi. Deuses, como tudo teria sido diferente. Hoje sei-o. Tomei a decisão que podia. E vivi toda uma vida não arrependida, mas constrangida pela culpa só minha de assim o ter decidido. Passados vinte anos a Vida ensina-me a lição recusada. Tantos anos a fugir, escondida atrás da desculpa "não tenho tempo", "não tenho condições"... nos bastidores sempre o medo presente...medo do castigo divino? Medo da consequência de um acto decidido na adolescência? Não sei o que lhe chamar, nem sei o que era essa sombra que sempre me acompanhou... E então surges Tu. Bates-me á porta de um sonho e dizes-me "quero nascer". E nasceste. Fruto da minha vontade. Fruto da minha carne e do meu sangue. Fonte da minha vida. E hoje, como teria sido no ontem recusado, a minha filha é mais filha dos meus pais que minha, pois é por eles criada. Eu? Eu sou aquela que luta do nascer do dia até á noite profunda para te merecer, minha filha...e sei que vou conseguir. * PS. Só quem é Mãe ou Pai e não pode, por circunstâncias que lhe são de certa forma alheias, ter o filho a 100% consigo entenderá a angustia daqueles que passam por isso. O desgaste, a saudade, o vazio, os conflictos com os avós que se acham pais, as noites sem dormir a tentar descortinar um plano para conseguir, etc etc A todos esses Pais e Mães, fica o meu sorriso e abraço forte. Nunca deixem de acreditar que vão ser capazes. Falhar é não tentar. * PS2. Obrigada Amor, por me entenderes, por me aturares, por me apoiares...é no lago sereno do teu olhar que me refugio quando me sinto a desabar.

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